Mais vamos deixar de papo furado e vamos a entrevista.
1.Como você começou a sua carreira artística?
Desde adolescente canto nas festas, bastava ter violão que já me chamava para cantar, embora nunca levasse fé que tivesse voz boa para ser uma profissional... Tinha convicção de que seria atriz e me profissionalizei pela CAL (Casa das Artes de Laranjeiras). No entanto, era necessário continuar dando aulas de inglês para me manter. Quando meu pai ficou seriamente doente, larguei tudo para cuidar dele. Um ano depois, meu pai faleceu e neste momento difícil da vida, de perdas tão significativas, tão marcantes, fiquei sem chão, não sabia o que fazer, para onde ir primeiro... Logo apareceu um conselheiro para me dar uma “injeção de energia, de gás”. Mudar tudo, começar do zero, buscar alguma coisa que realmente curtisse fazer, que mexesse com meus brios, que tivesse prazer de verdade! A música foi mencionada como primeiro elemento... Confesso que muitos amigos já tinham sugerido a mesma coisa várias vezes, mas nunca imaginei estar no palco cantando, e, sim, atuando... Pensei...Porque não? Seria uma forma de estar sempre junto dele! E já que todos diziam que sabia cantar, tinha talento, dom, era a oportunidade de investir pesado! Assim fiz! Larguei tudo, com a ajuda do meu marido, e fui à luta! O melhor de tudo que aprendi na vida é que talento e perseverança não têm idade nem hora!
2. Quais são suas influências musicais?
Nossa! É muita coisa!
Meus pais sempre foram muito festeiros! Meu pai viajava o mundo todo, era da marinha de guerra, responsável pela manutenção de helicópteros e aviões, e vivia fazendo cursos de mecânica. Cada país que chegava, procurava a melhor rádio local de lançamentos e novidades, muito rock’n roll, claro, deixava gravando 100% da programação e trazia tudo. Uma sorte danada viu! Desde criança só ouço música boa! Por outro lado, minha mãe, de Belém do Pará, era toda suingada, adorava o carimbó, o forró, enfim, todos os ritmos que pulsam nosso sangue brasileiríssimo, latino! Daí, você pode ter ideia do “liquidificador rítmico” que é a minha vida! Meu pai, morador do bairro de Cavalcante, subúrbio do Rio de Janeiro, frequentador de todas as rodas de samba, bailes de carnaval, festas de todas as classes sociais!
Minha mãe, baixinha arretada, dona do salão dos grandes bailes de sua terra natal, quando meus avós a deixavam sair com os irmãos, é claro. Não parava de dançar, só quando terminava! Dançava qualquer coisa! E eu também não sou “boba”, não! (Risos!) Meu pai, já em fim de carreira, foi condecorado pela marinha e recebeu o convite para servir na embaixada do Brasil em Londres. Com isso, fomos parar no coração da vanguarda musical, com acesso livre a todos os tipos de arte e cultura! Viajava a Europa toda caçando shows bons! Numa época onde a música imperava e refletia no comportamento humano em todo o universo! Apesar de muito nova, sempre fui grandona e acompanhava meu irmão em tudo. Fui testemunha ocular do nascimento do punk, por exemplo! Ia a todos os shows possíveis e imagináveis, apesar da pouca idade: musicais, concertos, shows, recitais, não importava o segmento ou o que ia acontecer! Estávamos sempre presentes! Entramos de sócios para um clube só na linha de shows de jazz e blues e o rock vinha como “bônus”! Praticamente, todos os dias saia do colégio, passávamos em casa, trocava de roupa, e lá íamos nós! Chegamos a ir ao “mini Woodstock”, em knebworth, em 1979! Um fim de semana de puro rock’n roll da fonte, deslumbrante, inesquecível! Se não me engano a banda “The Cure” fez seu lançamento oficial nesse evento... Quem encerrou o festival foi a maior banda de rock de todos os tempos, Led Zeppelin, aff! Agora eu é que te pergunto: minhas influências? Bem, com tudo que aprendi com meus pais e minhas próprias experiências e vivências musicais pelo mundo afora te respondo: vou do samba ao jazz, passando por todos os ritmos brasileiros (universais até!), fazendo um “pit stop” na música erudito-contemporânea, chegando aos dias de hoje, desfrutando do surgimento de mais e mais segmentos a cada dia no cenário musical! São muitas influências, tantas emoções! Eu ouço de tudo, mesmo quando não curto, ouço para poder argumentar, dizer que não curto com convicção; é importante e útil, nos dá cultura! Mas gostaria de deixar bem claro! Aprecio e muito toda música boa! Toda música boa tem o seu valor! Até a “trash music” tem seu valor se for bem executada...
3.Você estudou canto, toca algum instrumento?
Na década de 90 fiz algumas aulas de canto não por conta da música, e, sim, porque era professora de inglês numa escola particular no Rio de Janeiro e também dava aula particular em casa. De quebra vivia metida dentro dos teatros, atuando sempre que dava. E como impostava mal a voz, vivia exausta, correndo de um lado pro outro, acordando cedo e dormindo tarde, todo final de ano fazia uma faringite. Contratei uma professora de canto e logo comecei a cantar. Quando aprendi os “macetes” parei de fazer aula e fui à luta! Devo ter feito umas 20 aulas de canto com a professora Ângela Herz, a única que tive. Perfeita!
Até o ano de 2005 não tinha ideia do que era uma “diminuta” ou uma “aumentativa” ou até mesmo uma “colcheia”... Na linguagem mais popular entre os músicos, coisas tipo: “parte a”, “parte b”, “coda”, “cabelo” (dificuldade)... E assim vai! Não tinha a mínima ideia do que isso significava! Tentei algumas vezes estudar um instrumento... Em vão... Não tinha paciência. Aos 12 anos fiz minha primeira aula de piano... Não segui, muito chato, devagar, tinha pressa em aprender, pois sempre toquei piano de ouvido! O que isso quer dizer? Que tinha facilidade em ouvir uma música que tivesse piano e tirar e tocar com as duas mãos apenas ouvindo! Desde criança foi assim! Em 2005 tive a oportunidade de aprender o básico de absolutamente tudo que é relacionado à música. Meu marido me deu de presente uma bolsa de estudos na universidade onde leciona. Fiz o curso de gravação e produção fonográfica tendo como diretor e professor do curso, um dos maiores nomes no mercado fonográfico aqui no Brasil, Mayrton Bahia. Este diretor artístico de tantas gravadoras “majors” e expert em produção musical lançou muitos artistas renomados hoje em dia tais como, Legião Urbana, Cássia Eller, Elis Regina, entre tantos outros. O curso abrange um pouco de cada coisa, indo da parte burocrática (atualizada) às novidades virtuais dos dias de hoje. Aprendi a a fazer caixas de som, microfones, cabos, a soldar, pois estudei eletrônica! Aprendi a tocar violão, a ler uma partitura! Estudei física do som, quântica...Para muitos alunos que estudaram comigo, muita coisa já não era novidade. Mas para mim era tudo lindo, novo, magnífico! No final do curso, o projeto final do meu grupo ganhou, em São Paulo, o prêmio nacional de melhor gravação e mixagem de todas as universidades de música que concorreram! Hoje não toco profissionalmente instrumento nenhum, mas tenho a ampla noção do que acontece quando se faz música! O suficiente para quem quer criar, produzir e estar mais nos palcos do que por trás deles!
4. o swing brasileiro faz parte do seu repertório, como ingressa na sua música esse modo tão particular de ser brasileiro?
Minha vontade foi fazer rock brasileiro, já que, para mim o rock americano e o inglês são muito melhores quando são feitos por eles mesmos. Eu misturo tudo sem o menor pudor. Foi assim que eu cresci, é assim que eu sinto. Som pesado, ritmo e muito suingue.
Meu primeiro CD ainda em fase de lançamento abre com um samba rock! E todas as outras músicas contemplam nossos ritmos, de ponta a ponta! Acho que isso causa impacto em um trabalho especialmente brasileiro, reproduz e representa muito bem meu país, com excelência! E diverge da mesmice que se encontra o cenário da música... Mostra que quando há personalidade, profissionalismo, pode demorar a ser “descoberto”, mas um dia acontece! E graças à internet, o mundo todo pode ouvir o meu “som” e me conhecer cada dia um pouco mais!
5.Você compõe suas próprias canções?
Não, ainda não! Sou intérprete, gosto de cavar fundo nos baús dos artistas renomados (ou não!), pegar uma música que quase ninguém conheça e transformar totalmente sua linha musical! Adoro! Mas já tenho algumas parcerias com amigos compositores, quem sabe... Futuramente crio coragem!
6.Quem te acompanha na banda?
Iiiiih, menina... tá com tempo aê? (Risos!) Lá vou eu, então!
Bem, a banda do CD é uma coisa e a banda que toca comigo é outra...
A produção musical do meu CD intitulado “EUS” é de: Fernando Nunes, Igor Eça e Chico Chagas. Todos os músicos de altíssimo gabarito! Fernando Nunes era o baixista da Cássia Eller, desde que ela se foi Fernando toca com Zeca Baleiro entre outros artistas/ Igor Eça é filho de Luizinho Eça, um dos maiores pianistas que já tivemos aqui no Brasil desde a época da bossa nova, já tocou com meio mundo! Igor é um excelente profissional, multi instrumentista, de uma criatividade invejável!Chico Chagas também foi acordeonista e tecladista da Cássia Eller nos últimos anos de sua carreira extraordinária. Chico Chagas é um “as”! Já tocou com praticamente todos os nomes importantes da música brasileira - todos estes músicos, por falar nisso! Ultimamente, Chico estava morando fora do Brasil tocando com inúmeros artistas consagrados em toda a Europa e Estados Unidos! Foi rei do forró em Londres, participou de vários festivais importantes pelo mundo afora! Está de volta ao país por tempo indeterminado, sorte nossa! Foi o único músico/amigo que entrou para a minha banda desde o início da minha carreira, precisamente, no meu terceiro show! Sempre apostou em mim, no meu amor pela música, na minha vontade incansável de aprender, de crescer, de vencer! Devo muito a Chico Chagas, aprendi muito com ele! Cesinha, baterista? Esse gravou “de prima” as 11 baterias! Quer mais? Impossível! Ele mesmo disse que não conseguiria fazer melhor do que ele, hah! Phd em baterias! Foi baterista da Cássia no início da carreira dela. Hoje toca com Maria Gadu. E para completar a “base” da banda que gravou o meu CD, o guitarrista que também fazia parte da última formação da banda de Cássia Eller, o excepcional, o brilhante, uma fera nos violões assim como nas guitarras, Mr. Walter Villaça, carinhosamente conhecido entre os amigos como Cabelinho! Hoje está tocando com Nando Reis;Chico Chagas indicou Marcos Amma para gravar a percussão. Excelente, adorei conhecê-lo!Já tocou com muita gente boa por aqui, Caetano Veloso é um deles! Toca com Geraldo Azevedo, Zé Ramalho, entre outros./Também convidei os três músicos que tocavam comigo na época em que estava gravando o CD para fazer uma faixa super especial do meu primeiro álbum “EUS”, Fred Castilho na bateria, Bernardo Bosísio no violão e guitarra e Marcelo Linhares no baixo. Um “Power trio” da pesada, músicos esplendorosos!
Os músicos/artistas que acompanhavam a roqueira Cássia Eller já tocavam com a artista há mais de 10 anos, uma sintonia super especial! Aliás, vale registrar que o meu “núcleo” gravou ao vivo e a cores todas as faixas do CD, sem repetições! Os “comentários” musicais como solos, etc., gravaram depois, claro, mas a estrutura musical foi gravada ao vivo, valendo tudo! A “Vibe” era de arrepiar, literalmente! Uma emoção singular! Só quem estava lá se lembrará desses momentos! Tudo registrado em vídeo! Só quem sabe faz (tão bem!) ao vivo, se virando nos 30’! E olha que eles nem me conheciam! Para eles eu tiro o meu chapéu, grito bem alto “bravo”! “Tudo de bom”! E vocês pensam que parou por ai? É ruim, hein! Todos eles têm projetos pessoais, cada um tem sua própria banda, a maioria instrumental. Vale a pena ouvir, tudo de muito bom gosto!
Após a morte de Cássia Eller, foi na gravação do meu CD que esses amigos em comum de longas jornadas se reuniram pela primeira vez (se não foi a primeira, foi uma das primeiras!) para gravar rock’n roll...
Quanto à formação da banda hoje, tenho o privilégio de poder dividir o mesmo palco com o baterista João Viana, o baixista Rafael Garrafa e o guitarrista Sergio Morel. Uma honra trabalhar com esse Power trio! - Ah! João Viana também foi da última formação da banda da Cássia, é filho do querido e admirável artista, Djavan. Esse trio só soma! Uma energia e bom humor de tirar o fôlego, impressionante! Profissionais de ponta! Posso dizer que no show do dia 8 de outubro de 2010 onde registrei em DVD eles nem ensaiaram! Passamos a última música do show um pouco antes da hora de começar, fizemos 5 horas de ensaio dois dias antes do show só para eu poder apresentar o trabalho a esses músicos fabulosos! É um show difícil de ser executado, tem arranjos maravilhosos, nada fáceis.
Quando dá, os meninos que gravaram se jogam! Mas é complicado. Eles estão sempre atribulados com suas agendas, tocam com artistas renomados e fica difícil de conciliar...
7.Como esta sendo o lançamento do seu CD e onde as pessoas podem escutar sua bela voz?
Ainda não está! (Risos!) Já fiz o Pré Lançamento, em outubro de 2010! Estou tomando o maior cuidado com essa “primeira cria” que está pra nascer! Já tem bastante tempo que estou na luta para lançar, mas acredito que quando lutamos, acreditamos no que fazemos e, principalmente, quando amamos nossa profissão, nunca desistimos totalmente, uma hora vai! E está chegando a hora! Acordo todos os dias cantarolando... “ai, ai, ai, aaaai! tá chegando a hora”... Você se lembra dessa música??? (Risos!)
Graças a mim e aos deuses (Risos!) a minha música tem tocado em diversos locais na rede virtual! youtube (link:euspatriciaboechat), facebook, myspace, download.com (link: music/artists), www.patriciaboechat.com.br (tudo minúsculo!), alguns websites internacionais de música (japão, Turquia, Rússia, Espanha, etc.), algumas rádios comunitárias, ipods, mp3s, notebooks, pen drives, (Risos)! É só chegar que será super bem vindo! Já teve país pedindo pra eu liberar uma faixa para a inauguração do primeiro site de música! Chique, né! O maior orgulho! A internet é minha maior aliada nessa empreitada! Amém!
8.Quando serão os próximos shows?
Bem, o próximo show será dia 23 de julho, em Brasília, capital do Brasil, onde saiu muito artista bom como a própria Cássia Eller, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Capital Inicial entre tantos outros famosos. Estou fechando alguns shows importantes e decisivos pra minha carreira na capital! Já, já volto a conversar contigo, ((Risos))! Não posso contar ainda, tá? (Rs..)
9.Para terminar, teatro ou musica? Recomendações para aqueles que começam a estudar canto.
Pergunta difícil, não... ((Risos)!) Bem, para quem escolheu o canto como profissão, estudar muito é o caminho! Penso que às vezes a interpretação é mais importante até do que a nota, o vibrato, a técnica. A interpretação é que emociona! Achar bons cantores é bem mais fácil do que cantores que emocionam, que arrepiam!
A perseverança também é fundamental. Apostar, nunca desistir! Nunca! E, mesmo tendo a certeza que o talento e o dom estão presentes, estudar, ler, praticar, fuçar muito! Sempre! Nos dias de hoje é importantíssimo manter-se atualizado! Eu mesma já estou voltando para as aulas de canto! É necessário, imprescindível!
10. Ping pong
Cidade natal: Rio de Janeiro
Cantores ou bandas preferidas: Led Zeppelin, Elis Regina, Donald Fagen, Leny Andrade, Living Colour, Nat King Kole, The Beatles, Aretha Franklin, todas as escolas de samba, Miles Davis e toda música boa, claro! Vai faltar espaço para escrever tudo! :o)
Que cidade brasileira te inspira nas canções? Todas! Basta estar inspirada! Mas citaria o Rio de Janeiro, em especial!
Filhos: Luiza, minha flor de formosura!
Deus: SEMPRE!
Brasil: O melhor lugar para se viver!
Querida Patricia muito obrigada por me dar o prazer desta entrevista, só tenho que lhe agradecer a atenção e o carinho, e desejar muito sucesso porque talento você tem de sobra e isso eu sei de fonte própria!!! (Risos).
Entrevista via internet realizada por mim a uma talentosa cantora Patricia Boechat, não deixem de ingressar na web dela, aí poderão se deleitar com sua linda voz!!! Obrigada!!!
Um comentário:
eu é que te agradeço pela oportunidade e carinho!foi um prazer, maior ainda em saber que fui a primeira a ser entrevistada! #tamojuntoemisturado#
bj, SORTE!
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