Para onde vai o lixo depois que é descartado? Como destinar resíduos para reciclagem, e o que pode ser reciclado? ÉPOCA preparou um especial para mostrar o que acontece com o lixo que você produz em casa.
REDAÇÃO ÉPOCA
O brasileiro produz, em média, um pouco mais de um quilo de lixo por dia. Um quilo de resíduos indesejados, que simplesmente "jogamos fora", mas que somados, chegam a incrível cifra de 180 mil toneladas de resíduos descartados todos os dias. Mas o que é jogar fora? Para onde vai esse lixo, e qual as consequências de destinar esses resíduos de maneira inadequada?
ÉPOCA preparou um especial on-line para responder essas perguntas. A ideia é mostrar como descartar, reutilizar e reciclar e o que fazer com os rejeitos – a parte do lixo que não tem como ser reciclada.
Em "Comece a reciclagem dentro de casa", mostramos como descartar o lixo, separando o que deve ser reciclado do lixo que será destinado aos aterros. Duas reportagens mostram o que são os aterros: em "Como funciona um aterro sanitário", fomos até o Tecipar, aterro que atende as cidades de Santana de Parnaíba, Barueri, Carapicuíba e Araçariguama, na Grande São Paulo. Em "O lixo que vira energia e crédito de carbono", mostramos o caso do aterro Bandeirantes, desativado em 2007 e que usa as 40 milhões de toneladas de lixo enterradas no local para gerar energia.
Mas antes de o lixo chegar aos aterros, há um longo caminho. Relatamos a rotina dos coletores e a dificuldade em fazer uma coleta diária de mais de 10 mil toneladas de lixo na maior cidade do país em "Quem recolhe o seu lixo", e o caminho alternativo, em "Como o seu lixo é reciclado". Além disso, mostramos que lixo eletrônico tem solução em "Seus eletroeletrônicos também podem ser reciclados".
Você também pode ver os "Números da reciclagem no Brasil" e uma entrevista explicando as mudanças na política brasileira em relação ao lixo, em "O que é o Plano Nacional de Resíduos Sólidos".
Comece a reciclagem dentro de casa
Como separar o lixo doméstico e o que fazer para se livrar de eletrodomésticos antigos.
O Plano Nacional de Resíduos Sólidos prevê que, a partir de dezembro de 2014, nenhum lixo poderá ser despejado a céu aberto e que somente o rejeito deverá ser disposto em locais ambientalmente adequados. Como rejeito, o governo entende o que não pode ser aproveitado – reutilizado ou reciclado – depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis. Com isso, cabe à sociedade, às empresas e ao próprio governo mudar o hábito e a cultura de como cuidamos do nosso lixo.
As empresas terão de implementar a logística reversa. Trata-se de um conjunto de ações que garantem a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada. Ou seja, se você quiser se livrar de uma televisão (ou qualquer eletrônico ou eletrodoméstico), deve entrar em contato com o fabricante, que será responsável pela coleta. O mesmo terá de acontecer com agrotóxicos; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens, e lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista. Os demais resíduos devem ser separados para a reciclagem ou, na impossibilidade de sua reutilização, levados a centros de compostagem ou aterros. Abaixo, algumas dicas para a separação do lixo doméstico.
Como funciona um aterro sanitário
Até agosto de 2014, todos os municípios brasileiros precisam apresentar um plano de destinação adequada aos rejeitos em aterros sanitários.
O aterro da Tecipar recebe cerca de 700 toneladas de lixo por dia dos municípios de Santana de Parnaíba, Barueri,Carapicuíba e Araçariguama (Foto: Reprodução/ÉPOCA)
O lixão de Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo, foi desativado em 2010. Agora, o lixo doméstico não reciclável vai para um aterro particular, Tecipar. Regulado e fiscalizado pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), o aterro segue todas as normas para prevenir a contaminação do solo e do lençol freático e passa por uma auditoria da Organização das Nações Unidas (ONU) para poder vender crédito de carbono com a queima do gás metano produzido pela decomposição do lixo. O líquido que esse lixo solta ao longo do tempo, o chorume, é drenado para piscinas e depois transportado para estações de tratamento de esgoto. No fim, ele retorna ao aterro em forma de um pó preto.
O aterro da Tecipar recebe cerca de 700 toneladas de lixo por dia dos municípios de Santana de Parnaíba, Barueri,Carapicuíba e Araçariguama. Ele funciona 24 horas por dia, seis dias por semana. Cada camada de lixo compactado com terra argilosa tem cerca de cinco metros de altura e só a argila pode ser usada para cobrir o lixo, por ser impermeabilizante. Essa camada de terra que vai por cima dos resíduos evita a presença de animais, como urubus e cães. E, assim como prevê a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), catadores de materiais recicláveis estão proibidos de entrar no aterro.
As diversas áreas do aterro possuem drenos com os poços que coletam gases resultantes da decomposição do lixo, sendo o metano (CH4), o gás carbônico (CO2) e o oxigênio (O2) os mais presentes. Esses gases são queimados – e o metano deve ser totalmente quebrado em gases não poluentes para que a empresa possa vender crédito de carbono. No dia da visita da reportagem de ÉPOCA ao aterro, 32,3% do gás coletado eram metano, 22,9%, gás carbônico, e 6,41%, oxigênio.
saiba mais
Segundo a PNRS, até agosto de 2014, todos os municípios brasileiros (ou convênios de municípios) precisam apresentar um plano de destinação adequada aos rejeitos em aterros sanitários. No Brasil, o destino final dos resíduos sólidos são os lixões (ou vazadouros a céu aberto) em 50,8% dos municípios, em aterro controlado em 22,5% e em aterro sanitário em 27,7%. Esses são dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico de 2008. Todos os dias, são coletadas 188.815 toneladas de resíduos, sendo que 58,3% vão para aterro sanitário, 19,8%, para lixão e apenas 1,4% para reciclagem. Ainda há 2.906 lixões no Brasil, distribuídos em 2.810 municípios, que devem ser erradicados.
O lixo que vira energia e crédito de carbono
Aterro Bandeirantes, em São Paulo, foi fechado em 2007. Mas as 40 milhões de toneladas de lixo enterradas lá podem ser usadas para gerar energia.
Na superfície, uma paisagem bucólica, com grama verde, pequenos morros e algumas árvores de pequeno porte. Quem vê o campo, às margens da rodovia dos Bandeirantes, em São Paulo, não imagina que debaixo do gramado estão enterradas mais de 40 milhões de toneladas de lixo, espalhadas pelos 140 hectares do Aterro Bandeirantes. O aterro, administrado pela empresa Loga, funcionou entre os anos de 1979 até 2007. Nesse período, recebia metade de todo o lixo produzido diariamente em São Paulo.
O destino final do lixo orgânico é ainda um grande problema no Brasil. Todos os dias, mais de 190 mil toneladas de lixo são levadas para aterros, ou pior, lixões, em todo o país. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) diz que os governos têm até 2014 para acabar com todos os lixões, uma tarefa nada fácil, já que pelo menos metade dos municípios do país ainda destina seus lixos para lixões.
O técnico da Loga Álvaro Mitsuo Seriguti, que trabalha na administração do aterro, diz que a grande diferença entre lixões e aterros é que os aterros tratam o lixo para evitar contaminação do lençol freático ou da atmosfera. Isso porque o lixo se decompõe, gerando o chorume, um líquido poluente, e gás, principalmente metano, que polui e é 20 vezes pior para o clima da Terra do que o gás carbônico. A preocupação com o metano é tanta que não se pode, por exemplo, plantar árvores de grande porte no terreno do aterro, pois as raízes atingiriam os resíduos e poderiam liberar o metano na atmosfera.
Para capturar esse gás, o aterro Bandeirantes tem 400 pontos de captura, que retiram o metano que se forma com a putrefação do lixo, debaixo da terra, e leva para a Usina Termelétrica Bandeirantes. A usina, administrada pela empresa Biogás, aproveita esse metano, transformando o gás do lixo em eletricidade: a usina tem capacidade de fornecer energia elétrica para até 300 mil pessoas.
A Biogás faz parte de um programa de crédito de carbono. Como o metano seria liberado na atmosfera caso a usina não existisse, poluindo o ar e contribuindo para o fenômeno do aquecimento global, a usina e a prefeitura recebem dinheiro por evitar essas emissões. O ganho é duplo: financeiro, para a cidade e para a empresa, e ambiental para a sociedade. Anderson Alves da Silva, coordenador da Biogás, diz que, sem a usina, 80% do metano do aterro simplesmente sairiam para a atmosfera. Com a usina, apenas 0,01% polui o ar. "Só nesta manhã, por exemplo, nós deixamos de emitir até o momento 300 toneladas de CO2 equivalente", disse.
Quem recolhe o seu lixo
A rotina diária da coleta de lixo em uma grande cidade, como São Paulo, não é simples. Para piorar, falta conscientização, e muitas pessoas ainda descartam o lixo de forma irregular.
BRUNO CALIXTO
De um pátio na zona leste de São Paulo, os caminhões partem para a coleta de lixo da maior cidade do país. Pedro Escudeiro, coordenador de operações da Loga, uma das duas concessionárias que trabalham com coleta de lixo na cidade de São Paulo, está no escritório para acompanhar a saída das equipes da garagem.
Ao mesmo tempo, Escudeiro briga para resolver um problema provocado pelo recorrente descarte inadequado do lixo: um grupo que trabalhava na madrugada encontrou lixo hospitalar misturado com lixo doméstico, no material descartado por um hospital. A lei especifica que esse tipo de lixo não pode ser misturado com o comum. O material hospitalar é chamado de infectante, pode provocar doenças. E agulhas e seringas são um perigo. Escudeiro faz ligações, aciona a Limpurb, departamento da Prefeitura de São Paulo responsável pelo lixo da cidade, e até ameaça colocar o caso na imprensa. "Vamos ver se a prefeitura resolve. Se não resolver, vou passar as fotos para os jornalistas", disse.
No pátio, as equipes estão reunidas para iniciar a viagem do caminhão. A primeira pergunta para pegar carona na rotina desses trabalhadores é esclarecer o nome certo da profissão: lixeiro ou gari. "Quem faz o pão? O padeiro. Quem faz o sapato? O sapateiro. Agora, quem faz o lixo?", questionam. Não é o lixeiro, evidentemente. Quem faz o lixo somos todos nós. Portanto, é um dia de trabalho dos coletores de lixo que ÉPOCA vai acompanhar.
O roteiro é simples: seguir o lixo. Mas é complicado seguir qualquer coisa no trânsito de São Paulo. Mesmo em um bairro de ruas tranquilas, motoristas mostram impaciência com o caminhão: a velocidade média dos caminhões de lixo durante a coleta é de 8 km/h, e é comum os coletores escutarem buzinas enquanto trabalham. Mas o principal risco para a saúde do trabalhador é manusear material descartado inadequadamente. "As pessoas poderiam ajudar mais. Ainda tem pessoas que descartam seringas, descartam vidro, de maneira inadequada", diz o coletor Antonio Urbano Marques Silva. Só em São Paulo, mais de 3 mil pessoas trabalham com coleta de lixo. No caso do lixo domiciliar, são três coletores por caminhão, que percorrem por dia quase a mesma distância de uma maratona (42 quilômetros).
Durante o trajeto, os funcionários da Loga contam à reportagem as dificuldades que enfrentam nas ruas. Uma vez, dizem, um dos caminhões foi multado por parar em fila dupla. Segundo eles, o caminhão não estava estacionado, apenas parado esperando os coletores recolherem o lixo, e não existia alternativa a parar em fila dupla, a não ser que o lixo simplesmente não fosse recolhido. Relatam, além de muitas, eventuais acidentes de trânsito e até um caso de tentativa de roubo de um caminhão de lixo. Por que alguém roubaria um caminhão de lixo? Provavelmente para desmontar e vender o motor, afirmam.
São mais de 200 caminhões, que carregam de sete a doze toneladas de resíduos sólidos por viagem – e um caminhão pode fazer até cinco viagens por dia. No total, a empresa coleta 6 mil toneladas de lixo diariamente – e trata-se apenas de uma das duas concessionárias de coleta da cidade. A estimativa oficial é que São Paulo produz 10 mil toneladas de lixo todos os dias, e esse número se refere somente ao lixo doméstico, sem entrar no cálculo os resíduos industriais. Perto desse número, a quantidade destinada para a coleta seletiva parece irrelevante: apenas 155 toneladas.
Após a coleta, o caminhão não leva o lixo diretamente para o aterro, mas para uma estação de transbordo. Cerca de 90% de todo o lixo coletado pela empresa passa por uma estação na zona leste, que está sendo reconstruída e reformada para melhor administrar toda essa quantidade de lixo. Na estação, máquinas (empilhadeiras, escavadeiras) empilham o lixo e o transportam para uma carreta, que, aí, sim, vai transportar para o aterro. A estação é necessária por uma questão de logística: a carreta que sai da estação carrega duas vezes e meia mais lixo do que os caminhões comuns. Além disso, ela libera os caminhões para fazer outros setores da cidade, economizando viagens e combustível.
Com o lixo no aterro, fica evidente um dos problemas da gestão de resíduos em uma megalópole como São Paulo: os aterros não são eternos, eles se esgotam. Dois grandes aterros que a cidade utilizava foram fechados recentemente: o Aterro Bandeirantes, de responsabilidade da Loga, fechou em 2007, e o outro, o Aterro São João, fechou em 2009. Hoje, São Paulo manda seu lixo para aterros em outras cidades, como Guarulhos e Caieras, ambas na região metropolitana da cidade.
Enquanto partíamos para conhecer o aterro, o coordenador da Loga Pedro Escudeiro recebe uma ligação em seu celular. Era da prefeitura. A Limpurb havia registrado a ocorrência de lixo hospitalar misturado com o lixo comum naquele hospital, e aplicara três multas de R$ 1.000. "Eles colocam os garis em risco de contaminação e tudo que acontece é uma multa de R$ 1.000", diz. O problema do lixo nas cidades brasileiras tem solução, com projetos ambientais, reciclagem e respeito à coleta. Mas antes é preciso entender que o lixo é de fato um problema de todos os cidadãos. Não apenas o munícipe deve aprender a descartar seu lixo corretamente, assim como empresas e hospitais precisam enxergar o perigo de descartar o lixo de forma errada.
O Lixo é um problema de todos nós, temos que refletir e pensar que separando os materiais jogados no lixo, estamos dando nossa pequena contribuição ao Planeta e a uma melhor qualidade de vida a todos os seres vivos.
Material retirado da revista Época
Nenhum comentário:
Postar um comentário