A quantidade e a espécie de engenheiros de que uma nação precisa mostra o seu grau de desenvolvimento, diz Neil Gold, vice-presidente da Universidade de Windsor, no Canadá. Lá, por exemplo, a demanda é por engenheiros ambientais, enquanto no Brasil a busca é por engenheiros civis. O problema é que — independentemente da especialidade — a necessidade desse profissional tem crescido em ritmo mais veloz do que as universidades conseguem formá-los em todo o mundo. Segundo o US Bureau of Labor (a agência de pesquisas do Ministério do Trabalho dos Estados Unidos), a busca por engenheiros deve aumentar 11% entre 2006 e 2016 — mais do que em qualquer outra profissão. No Brasil, se o País crescer 6% ou 7% por ano como esperam alguns economistas, serão necessários 80.000 engenheiros, o dobro dos que se formam hoje, de acordo com a Federação Nacional de Engenheiros. Na sua primeira vinda ao Brasil, o professor Neil Gold conversou com a VOCÊ RH e explicou esse fenômeno, suas consequências para o desenvolvimento da sociedade e o que deve ser feito para termos mais e melhores engenheiros.
Por que a sociedade precisa tanto de engenheiros? O desenvolvimento da sociedade depende dos engenheiros, pois eles encontram as soluções para suas necessidades. Eles inventam e criam sistemas, mecanismos para a sociedade avançar, como estradas, ruas e pontes. Ajudam não só a criar, mas também a manter as coisas funcionando. Quando temos doenças, não é o médico que resolve o problema, mas os engenheiros — tratando a água, assegurando que ela não se contamine nos locais onde as pessoas vivem, colocando canos no chão e garantindo a saúde de todos. Olhe para um avião: criado por engenheiro. Um automóvel, criado por engenheiro; transporte público, engenheiro; trem, caminhão, sistemas viários — engenheiros. A necessidade de engenheiros é um bom indicador do desenvolvimento da economia e do crescimento de um país. Quanto mais se cresce, mais se precisa de engenheiros. O contrário também vale: a sociedade cresce mais devagar se não os tiver. Todo país do globo que está se desenvolvendo rápido tem uma urgência por engenheiros. Assim é na China, na Índia, no Brasil ou no Canadá.
De que tipo de engenheiros as sociedades precisam mais? Isso depende da região e da sociedade. Se o país constrói muitos prédios e muitas rodovias, sistemas de esgoto e infraestrutura, ele precisa de engenheiros civis. Mas, se a sociedade tem indústrias pesadas e constrói automóveis e aviões, ela precisa de engenheiros mecânicos e eletrônicos. Então, o Brasil é um grande exemplo de país porque está se movendo rapidamente, e precisa de engenheiros para fazer seus produtos — não da maneira como eles são feitos, mas para fazê-los melhor, de forma mais barata, mais eficiente. O Brasil provavelmente precisa de mais prédios e rodovias, então talvez busque mais engenheiros civis e mecânicos; e o Canadá precisa de engenheiros estratégicos, como os ambientais. À medida que nos aprofundamos nos negócios, como tratamento de água, por exemplo, percebemos a necessidade de engenheiros químicos também, ou ambientais.
E por que não existem engenheiros suficientes? Por muitas razões. Nós precisamos de mais estudantes interessados em matemática e ciência, e professores que possam ensinar esses assuntos. Precisamos de universidades que tenham programas fortes e de indústrias que assegurem à universidade que ela está fazendo o que necessitam. Mas no Canadá nós não colocamos ênfase na matemática, na física e na química — disciplinas essenciais para qualquer engenharia. O problema começa no primeiro ano da escola, quando devemos dizer às crianças que matemática e ciência são legais e as ajudam a entender o mundo e a resolver problemas. Bons professores mostram aos alunos por que estudar matemática e física pode ser útil. Então, no Canadá, precisamos fazer um trabalho melhor para preparar as crianças. E meu palpite é de que no Brasil é similar.
O problema começa nas escolas? Muito antes. Não colocamos ênfase na necessidade de engenheiros e na preparação das competências necessárias. Se não enfatizamos a necessidade de engenheiros e não deixamos claro o que é ser engenheiro, como a carreira é excitante e que eles têm uma boa vida, com bom salário, ninguém se interessa em seguir a profissão. Nós temos de deixar claro o que engenheiros fazem; e na nossa sociedade ninguém sabe isso. O que engenharia significa? Temos de aprender mais sobre isso, e os engenheiros profissionais podem ajudar. Eu acho necessário ter escolas melhores, que deem mais ênfase em matemática e ciência, e possam dizer como engenharia é uma carreira excitante e viável.
Qual é a melhor maneira de preparar os engenheiros? Hoje em dia, eles aprendem mais a teoria, mas a educação moderna de engenheira enfatiza a prática. Nós damos aos alunos não só a chance de entender como uma ferramenta ou um engenho funciona, mas também de participar, separar peças, colocá-las juntas de novo, e manter isso funcionando. Eles têm um problema e desenham a solução. Programas assim ajudam o aluno a estar pronto para o trabalho o mais rápido possível, pois ele tem a oportunidade de atuar num laboratório e numa indústria, por exemplo.
Como funcionam esses programas? Chamamos isso de educação colaborativa. É um arranjo cooperado entre a universidade e a indústria. Pegamos uma fabricante de carros, por exemplo, e os alunos que estudam engenharia mecânica podem passar parte do tempo do curso na indústria. Eles passam dois semestres na universidade e um semestre na empresa trabalhando nas fábricas ou na área de pesquisa e desenvolvimento, ajudando nas atividades de outros engenheiros, resolvendo problemas. Depois, eles voltam para a universidade, onde ficam por um ou dois semestres, e também vão a outras escolas, ou outras empresas, ensinando, na medida do possível, o que aprenderam. Os que participam do programa frequentemente conseguem emprego na mesma empresa, depois de se formar. Isso é importante para construir conexões: dar aos alunos a oportunidade de melhorar seu currículo e dar às empresas a chance de decidir se querem ou não contratar aquele candidato.
Esse programa é suficiente para formar engenheiros? Estamos no caminho. De um lado, o governo precisa dizer que isso é prioridade. De outro, as empresas precisam trabalhar com as universidades para construir programas de engenharia, para os engenheiros preencherem suas necessidades. Na Windsor, trabalhamos com várias fabricantes de automóveis num centro de pesquisa e desenvolvimento. Um dos projetos envolve a Chrysler, a prefeitura de Windsor, o governo federal e as universidades. A prefeitura deu o terreno para construirmos o centro, a Chrysler falou o que precisava e todos trabalham juntos: alunos de graduação e de pesquisa, graduados, assistentes e gestores de fábrica. Nesse lugar temos vários tipos de pessoas trabalhando e lá elas resolvem problemas reais das indústrias.
Que tipo de problemas eles conseguem resolver? Temos pesquisas que ajudam as indústrias automobilísticas a construir carros mais resistentes, colocando soldagens mais fortes. Historicamente, a única maneira de testar a soldagem era quebrando o material. Pense como isso custava caro, se a única forma de testar um produto era quebrá-lo. Então, nossos pesquisadores descobriram um jeito de testar a solda usando ondas sonoras. Agora os engenheiros não precisam quebrar o carro para saber se ele é seguro. E as fabricantes testam todos os carros, e não apenas uma amostra, como era feito antes, porque o novo processo é barato. Essa foi uma das coisas que eles descobriram nesse programa.
Como o RH pode ajudar a formar melhores engenheiros e ter negócios melhores? Existe um conceito chamado inovação aberta [em inglês open innovation], no qual a ideia é não proteger as ideias, mas compartilhá-las. Se você tem um problema, você deixa todo mundo trabalhar nisso, pois, se você quer um trabalho melhor, você usa as ideias de todos, não só as suas. A tese é que, quando você constrói, você não precisa ser o primeiro para ser o melhor. Os gestores de RH podem ajudar nisso: entender a necessidade do trabalho e depois agir. Se a empresa segue o conceito da inovação aberta, os gestores de pessoas precisam entender que os engenheiros vão trabalhar junto. Portanto, precisam recrutar o tipo certo de profissional, aberto a trabalhar com outras pessoas — que ache legal, e não chato, trabalhar em equipe.
Fonte: Revista Você RH
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