segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Agência auxilia empresas brasileiras interessadas em atuar na França

Órgão francês prospecta negócios do Brasil e os apresenta a parceiros regionais no país europeu

Por Andressa Trindade
Atualmente, cerca de 450 empresas francesas estão presentes no Brasil. Mas o número de negócios brasileiros que atuam na França é muito menor: são somente 30. Com o intuito de diminuir essa diferença, desde julho de 2010, a França instalou no Brasil a Agência Francesa para Investimentos Internacionais (AFII). O escritório paulista é o primeiro da América Latina. “Meu trabalho é encontrar empresas que possam ter projetos de internacionalização e convencê-las de que a França é uma opção interessante dentro da União Europeia”, explica François Removille, diretor geral da AFFI no Brasil.

A agência prospecta negócios brasileiros com potencial de sucesso na França e os apresenta aos parceiros regionais de desenvolvimento econômico, agentes que têm profundo conhecimento sobre as necessidades e a estrutura de localidades específicas do território francês. Quando há interesse, o parceiro regional faz uma proposta ao empresário. Junto com a AFII, ele programa visitas às cidades interessadas, e a decisão final de se internacionalizar fica por conta do brasileiro. Os trâmites para fechar negócios costumam durar em média 18 meses – por isso nenhum contrato foi concluído ainda.

Os principais motivos que incentivaram a França a instalar um braço da agência aqui são a rápida recuperação do Brasil após crise financeira de 2008, o movimento de internacionalização de empresas brasileiras, ainda que recente, e o tamanho da economia do país. Alguns dos setores considerados mais interessantes para atuar na França são serviços, agroindústria, cosmética, farmacêutica, transportes e logística, energia e novas tecnologias.

Como atrativos para o empresariado brasileiro, a França apresenta os seguintes fatores: o país tem localização central na União Europeia, oferece cerca de 64 milhões de consumidores e tem infraestrutura de comunicação e transporte eficiente. O país também disponibiliza uma política de incentivos fiscais vantajosa na área de pesquisa e desenvolvimento. O crédito fiscal, medida de incentivo fiscal implementada há três anos, permite a dedução do imposto de renda de parte dos gastos com pesquisa e desenvolvimento – como compra de equipamentos e salários.
A Criacittá, empresa especializada em marketing cenográfico, é um dos negócios que apostou na França como local para se internacionalizar. Com 13 anos de funcionamento, a agência está instalada desde 2004 no bairro de Saint Denis, em Paris. “Assumir novos desafios em outros países é mais do que uma estratégia de crescimento, é uma ação necessária para sobrevivência de qualquer empresa”, afirma Nelson Rocha, diretor-presidente da Criacittá.

De acordo com o empresário, uma das vantagens de atuar na França é a estrutura que o país oferece para receber negócios estrangeiros – as etapas de instalação e documentação são bem mais simples do que as brasileiras. “Nós optamos por abrir uma empresa francesa, e não apenas uma unidade do nosso negócio. Percebemos que as vantagens eram maiores nesse caso, principalmente em relação ao modelo de impostos”, explica. Hoje, a Criacittá francesa representa cerca de 12% do faturamento da empresa.

Desafios

Depois de passar boa parte da sua vida no Brasil e de montar um negócio aqui – a consultoria de negócios Crescendo Consult –, o francês Frédéric Donier decidiu voltar atenções para seu país de origem. Com atuação na área de gestão de mudanças em processos sucessórios e fusões de empresas, a consultoria levou ao mercado da França um serviço com diferenciais. Devido à sua ascendência, Donier conseguiu transpor com mais facilidade as diferenças culturais. “Consigo abrir um canal maior e mais próximo com os franceses. Minha equipe é mista, mas todos são biculturais, já trabalharam ou tiveram contato com os dois países”, explica.

Algumas atividades da consultoria são adaptadas à cultura local. Na França, o coaching de executivos precisa ser mais forte e efetivo, por exemplo, já que, em processos de fusão ou sucessão, os franceses tendem a ser mais resistentes às mudanças. “A metodologia de trabalho é a mesma, mas a parte intercultural deve ser tratada com muito cuidado”, diz Donier. A consultoria mantém na França uma equipe fixa que, por enquanto, não constituiu uma empresa.
1. Qual será o papel da AFII, sua estrutura e objetivos?

A intenção é basicamente informar as empresas brasileiras sobre oportunidades de investimentos e qualidades da França para seus planos de desenvolvimento internacional. A AFII fornece a elas todo o suporte necessário, tanto em nível nacional quanto regional, permitindo que se instalem de maneira eficiente e rápida.

2. Empresas de que setores podem fazer parcerias ou negócios coma França?

A França está aberta a receber projetos de toda envergadura e tipo de áreas, como serviços, agroindústria, cosmética, farmacêutica, transportes e logística, energia, novas tecnologias etc.

3. Porque a AFII incentiva investimentos das pequenas e médias empresas? Quais são os benefícios que a França está oferecendo?

A AFII não se restringe a ajudar empresas de pequeno e médio porte. É verdade que o governo francês tomou uma série de medidas nos últimos anos para tornar os negócios mais fáceis e lucrativos no país, entre outros para as PME. Essas extensas reformas modificaram a equação para empresas já existentes e para novos investidores. Por exemplo, o objetivo da Lei de Modernização da Economia, de 5 de agosto de 2008, foi de aumentar os atrativos econômicos da França e atrair mais talentos, ideias e investimentos. A lei criou um status simplificado para o trabalho autônomo (“auto-empreendedor”), que levou a um aumento significativo (de 60%) no número de empresas no país.

A lei também teve efeito positivo sobre as caixas das empresas. Um ano após entrar em vigor, as empresas efetuavam pagamentos umas para as outras até dez dias mais rápido do que faziam anteriormente.

Outros benefícios foram percebidos no comércio. As lojas ganharam mais liberdade para oferecer descontos, e a área total de lojas em planejamento dobrou em apenas um ano. Essas medidas beneficiaram primeiramente as pequenas e médias empresas.

Por outro lado, existe a possibilidade das empresas em beneficiar-se com o apoio público aos negócios - que são medidas regidas pela União Europeia. Essas ajudas são mais favoráveis quando o investidor é uma empresa de pequeno ou médio porte.

4. Quais são as perspectivas de sucesso para uma empresa estrangeira que decide investir em França?

Isso depende evidentemente dos produtos ou serviços oferecidos pelas empresas e da estratégia de cada uma delas. Porém, alguns dados confirmam as chances de sucesso:

A França é a quinta maior economia do mundo depois dos Estados Unidos, Japão, China e Alemanha, com um PIB de US$ 2.634 bilhões em 2009. O PIB per capita da França é semelhante ao da Alemanha, Japão e Reino Unido.

A França é também uma importante plataforma de exportação, responsável por 3,8% das exportações mundiais em 2008 - o país ficou em quarto lugar entre as nações da OMC, à frente do Reino Unido, Itália e Espanha.

Estrategicamente localizada no centro dos países mais ricos da Europa, a França tem acesso direto ao mercado da União Européia – um mercado de 16,19 trilhões de dólares (em 2009) e quase 500 milhões de consumidores. Verdadeira plataforma de lançamento para o desenvolvimento internacional, a França é também a segunda maior fonte mundial de fluxo de investimentos estrangeiros diretos (IED), responsável por 11,8% do total de IED em 2008, ficando à frente de Alemanha, Reino Unido e Japão.

Uma empresa estrangeira investindo na França pode também contar com excelente infraestrutura, mão-de-obra altamente qualificada, forte crescimento da inovação assim como excelente qualidade de vida.

5. O Brasil é considerado um dos principais investidores na França? Qual a sua posição atual? Qual o volume de recursos, empregos gerados ou outros indicadores de desempenho que podem ser destacados?

O principal investidor na França, em estoque, são os Estados Unidos, com mais de 4.200 empresas americanas com operações na França. Aliás, a França é o segundo país europeu acolhedor de investimentos americanos.

Em fluxo, de um total de 639 decisões de investimento estrangeiro criador de empregos em 2009, quatro países são responsáveis pela metade dos novos projetos de investimento. A Alemanha, com 113 projetos, torna-se o primeiro país investidor criador de empregos na França em 2009. Os Estados Unidos, que perdem sua posição tradicional de primeiro investidor na França, contabilizam 106 projetos de investimentos em 2009. As empresas italianas, com 56 projetos, confirmam o interesse pelo mercado francês dobrando o número de projetos em relação a 2007. Enfim, o Reino Unido, com 39 projetos em 2009, tem uma diminuição de seus investimentos destinados à França (53 em 2008).

Entre 2003 e 2009, sete projetos de investimentos brasileiros na França foram contabilizados, num total de 30 em estoque. No período 2003-2009 a França foi o terceiro país europeu acolhedor de projetos de implantação brasileiros, depois de Portugal e do Reino Unido, e representou 13% dos projetos destinados à Europa.

6. Como vai evoluir a posição atual do Brasil, após o estabelecimento da AFII no país?

A AFII espera que muito positivamente. A internacionalização das empresas brasileiras é um fenômeno relativamente recente. Os investimentos que saem do país passaram de aproximadamente US$ 1 bilhão no período 2000-2003 a quase 14 bilhões de dólares por ano no período 2004-2009. A nossa meta é acompanhar essa evolução.
7. Quais são os setores na França que oferecem mais oportunidades para empresas estrangeiras?

Fora os setores já citados, é relevante acrescentar que a França está localizada no centro geográfico do maior mercado do mundo. Portanto atividades de transportes e logística se instalaram naturalmente aproveitando dessa infraestrutura de primeira.

A França é o primeiro país turístico do mundo, recebendo 79 milhões de turistas por ano. Projetos nessa área podem beneficiar-se dessa posição de líder.

O país está em quinto lugar no mundo na área de pesquisa e desenvolvimento (P&D). Parcerias público-privadas em pesquisas e pólos de competitividades agem como incubadoras para inovações e ajudam a disseminar novas tecnologias. As indústrias automotiva, aeroespacial, farmacêutica e de telecomunicações estão entre as mais ativas em inovações na área de patentes. Mas os franceses também gostam de inovar em marketing: possuem um número de marcas por habitante maior do que os alemães ou os americanos.

Na França, as empresas de P&D desfrutam de um excepcional incentivo fiscal: o crédito fiscal para pesquisa. Dos primeiros 100 milhões de euros gastos em P&D, 30% são dedutíveis do imposto de renda e, acima deste patamar, a dedução é de 5%. Ao solicitar esse incentivo pela primeira vez, recebe-se uma restituição de 40% no primeiro ano e 35% no segundo.

8. Como deve proceder uma empresa brasileira interessada em investir em França?

A Agência Francesa para os Investimentos Internacionais é a agência nacional encarregada pela promoção, pela prospecção e pelo acolhimento dos investimentos internacionais. A AFII facilita a realização do projeto de empresas estrangeiras na França. Ela é o órgão econômico de referência em questões de atratividade e imagem econômicas da França. A agência trabalha com uma rede internacional, nacional e territorial e mantém uma parceria estreita com as agências regionais de desenvolvimento econômico para oferecer um serviço personalizado aos investidores. 

9. Quais são as reformas promovidas pela França para atrair investimentos de empresas estrangeiras?

Desde a primavera de 2007, o governo francês vem promovendo uma série de reformas econômicas, incluindo a Lei de Modernização da Economia (LME), aprovada em agosto de 2008. Essa lei facilita o desenvolvimento, estimula a concorrência e aumenta a atratividade econômica do país.

Melhores condições fiscal e jurídica para empresas:
• Um processo acelerado de pagamentos entre empresas, o que levou a um efeito positivo sobre as posições de caixa da empresa. Um ano após a lei entrar em vigor, os prazos de pagamento entre empresas foram reduzidas em 10 dias.
• Um estatuto do empreendedor privado simplificado ("autoempreendedor"), o que levou a um aumento significativo (60%) no número de empresas start-ups no país. A lei que rege simplificado PME. Ele agora leva apenas sete dias para formar uma empresa, em comparação com 18 na Alemanha.
• Incentivos fiscais para atrair executivos de alto nível externo. Por exemplo, os expatriados podem se beneficiar de uma isenção do imposto de renda em até 50% de sua renda total (bônus de expatriação mais uma fração da remuneração recebida pelo trabalho efetuado no estrangeiro).
• Uma profunda modernização da legislação financeira. Por exemplo, o acesso ao mercado francês foi simplificado para os investidores estrangeiros e das regras aplicáveis aos fundos de investimento foram modernizadas.
• Um estímulo da concorrência para o varejo e marketing: os varejistas têm a liberdade de escolher quando realizar vendas de queima de estoques, o que levou a um acréscimo de 24.000 transações. Os supermercados têm sido incentivados a aumentar a concorrência e reduzir os preços. Assim, a área total dos estabelecimentos locais que estão sendo planejadas duplicou em apenas um ano.

A abolição do imposto sobre empresas locais:
• Desde 1 de janeiro de 2010, o imposto empresarial local tem sido substituído pela "contribuição econômica local" (Contribuição Economique Territoriale - CET).
• Por conseguinte, a atual carga tributária sobre as empresas com sede na França serão reduzidos em € 6,3 bilhões. Em 2010, esses cortes de impostos são ainda maiores (€ 12,3 bilhões).
• O custo para as empresas fazerem investimentos produtivos serão reduzidos em mais de 20% em média, para um investimento feito ao longo de 10 anos.

Medidas para um mercado de trabalho mais flexível:
• Um novo tipo de contrato tornou contratações e demissões mais fáceis.
• A "ruptura convencional "(rupture conventionnelle) é um procedimento simplificado para rescindir contratos de trabalho.
• As horas extraordinárias não são tributadas. Desde agosto de 2008, os acordos de todas empresas podem definir livremente o número de horas extraordinárias semanais, dentro dos limites da legislação europeia (48 horas extras por semana).
• A duração máxima para os períodos de experiência foi aumentado, dando maior flexibilidade dos empregadores. Ele chega hoje a dois meses para os trabalhadores, três meses para "agentes de maîtrise" (trabalhadores qualificados) e quatro meses para os executivos (que pode ser reconduzida uma vez sob condições especiais).
• Status de "self-starter" para autonônomos: sucesso instantâneo quando foi criado, em janeiro de 2009, levando à criação de mais de 320 mil empresas em pouco mais de um ano.

Modernização das estruturas administrativas
• “Multi-ano” de autorização de residência foram criados para os titulares da empresa e empregados expatriados trabalhando dentro de empresas do mesmo grupo ou estabelecimentos da mesma empresa ("intramobilidade de grupo ").
• A residência de dez anos para a licença para contribuições econômicas excepcionais  foi introduzida em 2009. Pode ser atribuída aos executivos das subsidiárias estrangeiras instaladas na França que criarem ou salvaguardarem 50 postos de trabalho no país, ou ainda que fizerem um investimento de mais de € 10 milhões.

Melhoria dos serviços públicos para empresas:
• Lançado no verão de 2007, a revisão geral da Política Pública (Révision Générale des Politiques Publiques - RGPP) se constituiu como uma reforma sem precedentes do Estado francês. Ele visa reduzir os encargos administrativos impostos às empresas.
• Estabeleceu, por exemplo, Departamentos Regionais para Empresa, Concorrência, Consumo e Emprego, reunindo oito serviços anteriormente distintos.
• Tratamento preferencial às PMEs nos concursos públicos.

Maiores incentivos para a inovação:
• O crédito fiscal de pesquisa (crédit recherche impôt - CIR), criado em janeiro de 2008, é uma medida de alívio fiscal nas despesas de pesquisa e desenvolvimento (P&D) realizadas por empresas que operam na França.
•Abrange 40% das despesas de P&D no primeiro ano, 35% no segundo ano e 30% para os anos subsequentes, até € 100 milhões (e 5% das despesas acima deste limite).
• Em 2009, as empresas receberam € 3,6 bilhões em créditos tributários de pesquisa (em comparação com € 2,1 bilhões em 2008).

A modernização do ensino superior:
• A lei de 2007 abriu a autonomia das universidades para o mundo dos negócios. Por exemplo, ele abriu os conselhos que regem a membros de fora da comunidade acadêmica. Hoje, mais de 200 pessoas da comunidade de negócios são membros desses conselhos de administração, segundo o Ministério de Educação e Pesquisa.
• Um plano excepcional para os edifícios da universidade, chamado de Operação Campus, foi lançado em 2008. O governo investiu € 5 bilhões em doze campus, para renovar as instalações e promover uma maior cooperação entre pesquisadores, estudantes e empresas.
• Além disso, os € 11 bilhões do finaciamento apresentado pelo presidente francês em dezembro passado serão investidos para transformar as universidades em centros de excelência em pesquisa. O financiamento também reservou € 3,5 bilhões para desdobramentos comerciais de universidades e institutos públicos de pesquisa.

A busca do apoio público para polos de inovação:
• O governo francês concedeu € 1,5 entre 2009 e 2011 a projetos de P&D, liderados pelos 71 pólos de inovação francesa.
• Mais um extra de € 500 milhões para financiar os grandes projetos, como o europeu Crolles 3, centro de pesquisa de nanotecnologia desenvolvido pela Minalogic, o aglomerado mundial de excelência no domínio das nanotecnologias, que é baseado em Grenoble.
• Mais de 500 subsidiárias de empresas estrangeiras tornaram-se membros desses pólos de inovação.
 FONTE: Pequenas Empresas Grandes Negócios

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