quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O jovem de hoje é menos maduro?

Há uma onda global de empresas insatisfeitas com a personalidade do recém-formado. No Brasil, as empresas não têm essa opinião, mas vêem pouca evolução em competência técnica, informa uma pesquisa alemã
Marcos Coronato
Classificar pessoas e fazer generalizações é um exercício polêmico, porém útil. Ele vem ajudando profissionais mais experientes a buscar jeitos de lidar com seus colegas jovens, com menos de 30 anos. O grupo sub-30 já ganhou diversos nomes, como “Geração do Milênio”, dado pelos historiadores americanos William Strauss e Neil Howe à turma que entrou neste milênio e no século 21 como adolescente. No Brasil, popularizou-se a expressão Geração Y – e, com o nome, vários conceitos e preconceitos. O mercado de trabalho atribui aos Y traços interessantes para toda organização, como facilidade para compartilhar conhecimento e cumprir várias tarefas ao mesmo tempo. E também rótulos nada elogiosos, como falta de humildade e dificuldade de lidar com crítica. Haveria aí alguma verdade?

Avaliar esses comportamentos em si mesmo (se você tem menos de 30) ou em amigos e parentes nessa faixa etária não é só um exercício teórico de psicologia. Uma pesquisa da consultoria alemã Trendence, especializada em recursos humanos, mostra a crescente importância do fator “personalidade” nas seleções de emprego. O estudo coletou opiniões de profissionais responsáveis por recrutamento e seleção de recém-formados em grandes empresas, em 20 países (Brasil, Austrália, Bélgica, Canadá, China, França, Alemanha, Índia, Itália, Japão, México, Holanda, Rússia, África do Sul, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos). Na maioria desses países, as companhias consideram “personalidade” mais importante que “competências” (conhecimento prático, aplicável no dia a dia) e “conhecimento” (teórico). No Brasil, a diferença a favor do fator “personalidade” foi especialmente grande, como no Japão, na Suíça e na Alemanha. “Comportamento, atitudes e personalidade são considerados os fatores determinantes para o sucesso dos graduandos”, afirma a diretora de Pesquisa da Trendence, Caroline Dépierre. “Essa é uma tendência muito importante no mercado de trabalho global”.
A tendência não se comprovou nas maiores economias do mundo, Estados Unidos e China, que continuam dando prioridade às competências técnicas. Mas já é possível perceber a mudança no Brasil. “Queremos pessoas com capacidade de construir credibilidade, de agir de boa fé, atuar em equipe, formar um bom clima de trabalho”, afirma Silvia Zwi, diretora de recursos humanos da área de biocombustíveis da BP. A companhia, como qualquer organização global competitiva, mantém um alto padrão de exigência com a formação e a competência técnica de seus contratados – na definição de Silvia, pessoas capazes de entregar resultados, liderar equipes, trabalhar em cenários de risco e atuar em vários projetos ao mesmo tempo. Mostrar o tipo de personalidade desejado, porém, diferencia o profissional. Foi assim com o economista Bruno Silva, de 25 anos. Ele se formou na PUC de Campinas e foi contratado pela BP no segundo semestre de 2010, para a área de novos negócios, depois de um estágio. “Na seleção, consegui irradiar entusiasmo e mostrar que eu pensava no longo prazo. Depois, no estágio, amadureci muito, demonstrei iniciativa, bom humor e capacidade de transitar entre ambientes diferentes”, diz.


Ao mesmo tempo em que a personalidade dos recém-formados ganha importância nos processos de seleção, difundem-se opiniões críticas a respeito da maturidade dos jovens. Na pesquisa, em apenas quatro dos 20 países a maioria dos recrutadores teve uma visão neutra, de que os recém-formados têm hoje o mesmo nível de maturidade (ou imaturidade) que os do passado. Em 10 países, a maior parte dos recrutadores acha que os jovens da atualidade têm personalidade “pior” que os do passado – e esse grupo inclui a maior parte dos mercados desenvolvidos, como Estados Unidos, Alemanha, França e Canadá. O Japão foi o país mais pessimista do mundo a respeito de seus jovens. O recém-formado brasileiro deve se preocupar com a possibilidade de essa crença ganhar força por aqui nos próximos anos. Por enquanto, porém, o Brasil está no grupo em que os recrutadores atribuem aos jovens de hoje personalidade “melhor” que os do passado, ao lado de China e Reino Unido.

De maneira geral, os responsáveis por seleção de recém-formados no Brasil vêem nos jovens muitas características típicas da Geração Y, mas não as tratam como diferenças de "qualidade", algo que faria uma geração melhor ou pior que outra – em relação às gerações anteriores, eles consideram os Y apenas ligeiramente melhores em personalidade e em competência técnica prática, e no mesmo nível em termos de conhecimento teórico. Mas essa ausência de uma evolução mais notável tem seu lado preocupante. A pesquisa detectou situação mais promissora em outros países em desenvolvimento. Na China, na Índia, na Turquia e no México, os recrutadores consideram a competência prática e o nível de conhecimento teórico dos novatos bem melhores que os das gerações anteriores.
 FONTE: Revista Época

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